Nesse último dia do ano eu gostaria de deixar uma mensagem que foi escrita especialmente para vocês por uma amiga muito talentosa chamada Sara Andrade. Ela é a dona do blog Eu, paradoxo, onde ela escreve muitos e muitos mais textos como esse. Obrigada Sara, que nesse ano novo seu talento chegue ao mundo! E para vocês, um ano novo cheio de paz, amor, esperança e fé em dias melhores!
Lições
No fim sempre me questiono como vim parar aqui. No fim sempre quero saber mais do que posso. No fim sempre espero mais do que tenho em evidência poder. No fim exatamente, tudo conversa comigo sem eu forçar. No fim, vejo mais portas se abrindo em lugares dos quais só se pode dizer que estão trancafiados pelo tempo.
Se eu não sentisse arrependimento não seria eu, e não gostaria nem um pouco de ser assim, pois se fosse, provavelmente seria de igual modo surda. A vida nos ensina lições silenciosas e frequentes, dia após dia está a nos carregar pela mão como quando éramos criança e nossa mãe assim fazia. Por vezes relutamos, queremos nos soltar, mas a atração é maior, já que quando soltamos de fato logo corremos para novamente agarrar. O medo. Sim, o medo do nada dói mais que o medo daquilo que se apresentará a nós à diante das mãos que nos carregam. Se eu não sentisse arrependimento não seria eu, e seria mesmo assim, numa versão piorada e mais fraca, como um produto fora de estoque, temendo a reprodução.
Se eu não me arrependesse daqueles dias em que fui egoísta, o continuaria sendo. Nada mudaria e as pessoas ainda sofreriam comigo, chorariam por minha inflexibilidade, gostariam de mandar-me passear sem ideia de retorno. Não, eu não prefiro ser assim, prefiro ser uma versão adocicada e bem melhorada de mim, mesmo que duras sejam as lições que eu ainda vá ter que aprender.... Às vezes as mãos que me carregam, sem que sejam as de minha mãe, são calorosas, outras vezes frias como quem acabara de apalpar uma bola de neve ou tivera contado floquinhos nos dedos. Quase sempre o tempo voa nos meus olhos, ouvidos e sentidos. Sou tão boba, inocente, figuro entre as criaturas mais dignas de risada, não por ser ignorante, mas por não saber mensurar o tamanho do aprendizado que ainda não possuo. Teclas de piano não param de soar em minha mente e tudo o que mais desejo agora é ver esse fim, essa transição, ouvir badaladas de sinos imaginários dizendo-me que não há mais dias desse ano intenso, apenas dias de uma nova fase me esperando...
No fim de tudo me pergunto o que mudaria, respondo que bastante. Não sou adepta de discursos politicamente corretos, nem ao menos de esperanças falidas em uma segurança intrínseca na ausência de motivos para desejar fazer diferente. Eu faria tudo diferente, tudo melhor, tudo mais forte, mais braçal, mais sensível, mais firme e real. E nem por isso devo chorar, pois o fracasso é a bala que se assenta em nossa mão, descansada e gélida se torna por mais que na outra haja um imenso canhão.
Na esquina seguinte quero encontrar uma cafeteria com aspecto de casa, iluminada pela manhã, cheirando a solidão, me chamando para conversas comigo mesma na mesa mais próxima vazia que encontrar. De tempos em tempos quero encontrar outros olhos em minha direção, alguns sorridentes, outros bravos e perdidos. Mais que isso! Quero encontrar mãos abanando, sorrisos se formando e páginas sendo foleadas nas mãos de garotos de cabelo amarelado pela poeira.... Quero ver uma bola ricochetear a janela, e o dono do ambiente reclamar. Quero ver idosos contemplando o céu e rodeadas de desejo sincero por conhecimento daqueles que nem sabem ainda quem são.
Nas minhas roupas permanece o cheiro desse ano e os fios daquele meu casaco puído continuam ali, pedindo por uma linha que os costure sem dó nem piedade. Se foi ruim, passou. Aguarde a vida se mostrar, e saiba que sozinho você só fica se quiser. As paredes lhe falam, o mundo lhe fala, as árvores lhe falam, até seus pensamentos lhe falam, e com maestria. Dance mesmo sem chuva, mande a raiva se esconder na lixeira, lamente o que tiver de lamentar e novamente planeje o amanhã. Ele existe. E você precisa ver o que eu vejo, mesmo sem usar as minhas lentes, podem ser as suas, mas veja, somente veja.
Um dia é suficiente para te fazer enxergar o que em um ano inteiro não viu. A mãe vida continua te carregando, como um menino carrancudo, pela mão. Continue dando os passos, tomando as decisões, mas faça. Dê adeus, você precisa. A dor durará segundos intensos, mas as chances não vão esperar se você não quiser deixar tudo, exatamente tudo para trás.
Feliz Ano Novo!
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